Judô em Juazeiro

Por  Paulo Afonso Lopes




A vida de nenhum homem pode estar contida em uma narração. Não há como dar a cada ano o seu peso devido para incluir cada evento, cada pessoa que ajudou a montar uma vida. O que se pode fazer, é ser fiel em espírito com os fatos, e tentar descobrir um caminho até o coração do homem. Na década de 60 a 70 floresceu em Juazeiro as artes das lutas: capoeira, livre, vale tudo, box, jiu-jitsu e Judô. Os pioneiros foram Dr. Geraldo Coelho, Dr. Giuzepe-Muccine, Clézio Romulo Atanázio, Samuel Ayres Nascimento Filho, Paulo Freire Luna, Inácio Mão de Onça, “Antonio T. S.Caffé”, Diney Barbosa, Zé Mochotó Filho, Eloí Macário, Justino de Flávio Silva, Zé Maria, Pimentel, Sinval, Punho de Aço, Aderbal da Spartan (parente de Samuel); entre outros baluartes. Nessa época reinava no norte nordeste os grandes lutadores: Waldemar Santana, Ivan Gomes, Euclides Pereira, Hilário Silva, Marreta, Coutinho, Renatão – O Escorpião do Ibirapuera, Demônio do Ringue, Fidelão, e outros nobres lutadores esquecidos pelo egoísmo e egocentrismo humano.(fotos: Euclides Pereira e Ivan Gomes, e Hilário Silva).





O fenômeno baiano Waldemar Santana atuava nos ringues do Brasil. Clézio Atanázio e Gil Brás anunciavam pelo carro volante da Marabá Publicidade: “Hoje vai correr óleo quente (sangue) no tablado verde e amarelo da quadra do Franvale, no Largo da Matança,”(em frente ao Matadouro Municipal), imaginem; a quadra ficava cheia, lotada, era sucesso. O ser humano gosta de ver sangue, especialmente quando é dos outros e não o seu. 
Com 12 anos de idade, meu palco era na Ilha do Fogo aos domingos, com meu irmão Lucas C. Lopes (técnico), Dr. Joaz; e às vezes no muro da minha casa; sempre escondido dos meus pais, que não queriam minha participação. Meu tio Miguel Lopes teve um “AVC”(faleceu) após assistir uma luta sanguinária de Marreta na quadra do Franvale. Meu primo Jael Lopes era astro dos saltos ornamentais da Ponte Presidente Dutra, era o Tarzan da família, entre outros lutadores; Idomar O. Lopes , Jerry Lopes, Josmar,Jairinho, também campeões de natação, incluindo mar grande Salvador, antes de “Lourival Quirino” (também parente). Samuel Ayres do Nascimeno Filho era o astro e ícone das crianças e jovens. Tinha um carisma e didática excelente com os jovens; todos queriam ser seus alunos, e eu estava entre eles.


Prof. Paulo com 1 ano de idade



Prof. Paulo com 18 ano de idade

Dr. G. Muccine, disse-me que o Dr. Geraldo Coelho convidou o japones SAITO (Kodokan) para trabalhar nas industrias coelho, com apoio de Dr.Muccine o Judô foi instalado inicialmente no Petrolina Club; depois passou a ser praticado em Juazeiro nas instalações da Santa Casa de Misericórdia, aí já contava com Clézio R. Atanázio, Samuel A. Nascimento, Inácio Mão de Onça e Paulo Freire Luna (aluno de Kazuo Yoshida); nessa época o empresário João Cordeiro Neves (Cine São Francisco) conseguiu trazer para Juazeiro o japonês Bito Tanaka (Kodokan), que enfrentou desafios “internos” dos lutadores das modalidades da época (“todos de kimono em off para evitar possíveis punições da Kodokan a Bito Tanaka”); definindo afinal a vitória da implantação do Judô em Juazeiro - Ba. Fui limitado nas competições por ser arrimo de família, sem dinheiro, sem tempo, mesmo assim, conquistei o terceiro melhor do “Interiorano”, competição em Feira de Santana ; participação no Absoluto Baiano na AABB-Salvador; posteriormente conseguindo a maior nota no KATA exame de Faixa Preta 3°Dan no CO-PM (1995) em Salvador-Ba.



Bito Tanaka e outros pioneiros se afastaram e saíram de Juazeiro; houve uma decadência e parada momentânea, retornando depois com todo o vigor na A.A.J.- Associação Atlética de Juazeiro (no Estádio Adauto Morais) com apoio do Prefeito Américo Tanuri, José Carlos Tanuri, do TG-06-129, Leãozinho (Joalina), sob direção de Samuel A. Nascimento em 1970-71, contando com a manutenção do Exército: Sgts. José Costa Diniz e Floresval Nascimento. Nessa fase Jackson Xavier (Pioneira), e Paulo Afonso Lopes eram os principais destaques ao lado do monitor Miguel Inácio Nascimento da PM, e do amigo Miguel Silva (Miguel do Melão, falecido precocimente).



Mantive o Judô sempre apolítico, tivemos o apoio de todos os Prefeitos do Município, os que mais se destacaram apoiando o Judô foram: Américo Tanuri, Sec José Carlos Tanuri, Arnaldo Vieira, Jorge Khoury Hedaye, Joseph Bandeira, Misael Aguilar, Prof. Rivas, Isaac Carvalho, Sec. Clériston Andrade na Seduc, Vereadores e os amigos Paulinho César Carvalho e Antônio Caffé. Voltando a Samuel Nascimento, que impossibilitado de continuar; pelo trabalho intenso na “White Martins” e posteriormente pela política, passa a direção da equipe de Judô para o seu amigo, aluno e futuro funcionário Paulo Afonso Lopes, e José Wilson Granja - monitor auxiliar. Paulinho, entre os muitos da família, que já eram dedicados e campeões de natação, jiu-jitsu e livre-americana (internamente); agora era judoca, graças ao direcionamento feito por Lucas C. Lopes (técnico), Clézio R. Atanázio, Profs. Paulo Freire Luna; Samuel Nascimento, Miguel Inácio Nascimento; e o Clezio Atanázio que foi fundamental e decisivo na minha carreira. Depois Profs. Gilberto e Ivan. O Judô era filiado à Confederação Brasileira de Pugilismo porque ainda não existia a CBJ. Tudo era muito empírico e ainda sem uma organização oficial. Em 1970 nasce a Federação Baiana. Os clubes fundadores da FEBAJU foram o Iate Clube da Bahia, AABB(Associação Atlética do Banco do Brasil), Caraíba Judô Clube e SpartanJudô Clube, tendo como primeiro presidente o Sr. Hemetério Chaves Filho. Assim foi fundada a FEBAJU em 16/04/1970.



Em 1971 fundei a “Equipe de Judô Samurai-kan” (na Academia A.A.J. no Estádio Adauto Morais), contando com o apoio do Prefeito Américo Tanuri, TG-06-129 Exército, SGT DINIZ, dos Profs. Gilberto P. Menezes (exército), Ivan Dias de Souza, Samuel Nascimento , Dr. Muccine, Clézio Atanázio, Shiran Ciro e seus Filhos-CIJ-Salvador. Em 20/02/1977 foi estabelecido o Judô no Clube Santana-Chesf em Sobradinho-Ba com Paulinho e José Wilson. 1980/85 Soc. 28 de Setembro, Curtume Campêlo com apoio de Gladston e Ronaldo Campêlo. A partir de 2008 parcerias com: PM, Seduc, Projetos Sociais, Clubes, Escolas do Município e Estado, e o Projeto Judô Escolar até 2014. Professores, alunos, campeões, amigos, Federações e Ligas, confirmam e reconhecem o valor desses pioneiros do Judô em Juazeiro-Ba e a direção e manutenção do Prof. Paulo Afonso Lopes de 1971 à 2014 como base desse dessenvolvimento.



Não devemos esquecer nunca que, o Judô da Bahia teve fundamentos, raízes e prosperidade, graças aos grandes Mestres, Senseis e Shirans Pioneiros: Kuzuo Yoshida, B. Tanaka, Lhofei Shiozawa, Francisco M. Pinto - O Ciro e todos os seus filhos, Manoel Paixão e filhos, Carlos Lopes, Mestre Balalé, P. Bolinho, Taciano Correia, Paulo Paulada, Nivaldo (CIJ), Marcelo França e Filhos, Edivaldo Luiz – Serrinha; Jorge Sobreira, Hugo Ripardo, Américo da aeronáutica, Ernesto Peleteiro, Mario Bento, Aloísio Short, Paulo Neves, Ivan Dias de Souza e Gilberto P. Menezes, Arestides Benício: Gringo, “Carlinhos de Shiozawa”, Marlon Miranda, Denis, Tevano, Cristovão, Ricardo, Edson Carvalho, Cristiane, e Cirinho Pinto, Renatão de Feira, na Bahia. Em Pernambuco: Prof. Diógenes de Morais e família faziam um programa de Judô na TV, “Alves do CJR”, TITICO,(Recife), saudoso MOTA, O Grande Arruda, e TADAO NAGAI que se consagra um mito e ícone do judô do nordeste, seu filho Sergio Nagai continua a hegemonia hoje; entre outros nobres professores, às vezes "não" reconhecidos, nem sequer lembrados.




Continua...
 

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